O Vale das Tormentas by Mary Stewart

O Vale das Tormentas by Mary Stewart

Author:Mary Stewart [Stewart, Mary]
Language: por
Format: epub
Publisher: Exilado
Published: 2013-03-23T16:00:00+00:00


15. A NOIVA VENDIDA

A cabana da fazenda estava em silêncio, fechada, e parecia deserta, mas quando Stephen e Jennifer se aproximaram, pisando nas pedras entre as quais crescia a erva, viram uma mula amarrada ao lado de um dos telheiros. O couro estava escurecido pelo suor, os pêlos na barriga marcados com pontos molhados.

Stephen estacou e estendeu a mão para segurar Jennifer pelo braço.

— Com os demônios — disse, falando baixo. — Isso significa que êle já voltou. Jenny, pelo amor de Deus, quer afastar-se disto? Depressa!

Era tarde demais, porém. Um homem já aparecera de um dos telheiros e vinha em direção deles, de balde na mão. Era o homem grande e moreno que ela vira na noite da véspera; Pierre Bussac, habitante das montanhas e... assassino? Jennifer, presa às pedras onde pudera ouvir o diálogo na noite da véspera, só podia esperar que o francês não percebesse quem era ela.

A luz do sol, encoberta pela forma ameaçadora da nuvem, incidia em ângulo, nos olhos dele, de modo que, ofuscado por momentos, ao sair do telheiro escuro, êle deu três ou quatro passos à frente, antes de vê-los. Estacou ao notar-lhes a presença, fazendo uma careta de incerteza para Stephen, que se pusera diante de Jennifer.

— Que diabo quer aqui? — perguntou o homem, com grosseria.

Stephen contrapôs:

— Você é Pierre Bussac?

Não obteve resposta direta, senão a réplica grosseira:

— Está perdendo seu tempo.

Bussac dizia isso com seu sotaque meridional bem forte, que deixara Jennifer perplexa na noite anterior. Ela compreendeu, com alívio, que o homem supunha ser Stephen algum turista que procurasse seus serviços profissionais como guia. Ele aduziu, em tom azedo:

— Não estou aceitando mais nada neste verão. Não disseram isso na aldeia?

Ato contínuo ele se voltou, baixando um dos ombros como a querer afastá-los dali. Mas esse movimento lhe proporcionara a visão de Jennifer, escondida atrás de Stephen. O homem se pôs a olhar, a expressão desconfiada e raivosa examinando-a, percebendo os cabelos dourados claros, a pele tisnada de sol, o vestido de algodão verde que ela usava...

Os olhos negros de Bussac abriram-se mais, arregalaram-se. O balde escapou-lhe dos dedos, batendo no chão com estrondo, virando-se e derramando, em movimento tão lento que não parecia real. Ele não se mexeu para impedi-lo. O estrépito da queda do balde fez com que dois cachorros viessem correndo, mas os animais estacaram ao ver o leite derramado nas pedras, e se puseram atrás do dono, o pêlo um pouco eriçado e vendo os desconhecidos com desconfiança, enquanto rosnavam.

Bussac sabia quem Jennifer era; isso já se tornara evidente. E em mistura com a raiva, em seu olhar notava-se a presença inconfundível' do medo. Seu olhar fraquejou, baixou, e em seguida — de modo irresistível — ele olhou para a porta fechada da cabana.

Foi por momentos, apenas. O som leve do balde caído, rolando em um arco a seus pés, pareceu trazê-lo de volta aos sentidos. Ele se inclinou para apanhá-lo, praguejou para os cachorros e voltou-se para Jennifer e Stephen com seu autocontrole aparentemente intacto.



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